Neurose é um transtorno psíquico que, embora tenso, não impede a pessoa de “ter uma vida normal” o que, na nossa sociedade, significa “continuar produzindo”.

Transtornos de ansiedade, dificuldade de se relacionar, transtornos alimentares, falta de ânimo, sensação de não ter um lugar no mundo, medo de andar em meio a uma multidão, tudo isso são exemplos clássicos de manifestações e comportamentos neuróticos.

Como isso se relaciona com a Espiritualidade?

A experiência espiritual envolve todo o nosso corpo. E um dos mecanismos mais complexos e refinados que temos dentro de nós é o nosso sistema nervoso autônomo. Ele processa todas as emoções, regula o funcionamento dos nossos órgãos vitais, registra e qualifica os estímulos que chegam nos nossos sentidos e é peça fundamental no processo de criarmos a nossa realidade interna.

Um sistema nervoso fragilizado ou descalibrado cria uma série de sintomas no nosso corpo: emoções à flor da pele, irritabilidade, angústia, fraqueza, cansaço, pensamentos catastróficos, mente acelerada, necessidade de resultados, estímulos sensoriais perdem a força… E todos esses sintomas exercem muita força na maneira que interpretamos as nossas experiências, inclusive as experiências da espiritualidade.

Como?

O neurótico precisa de alívio. Muitas vezes ele suporta uma carga de tensão muito forte diariamente. Isso pode fazer com que o neurótico fique apegado à euforia da espiritualidade e não mergulhe fundo nas suas questões, usando a experiência como um descarga energética para conseguir respirar um pouco.

O neurótico também cria mais expectativas que o normal e começa a tratar a espiritualidade como uma ferramenta orientada a solução de problemas, procurando a experiência espiritual que traga abundância, ou que melhore a autoestima, ou que tenha qualquer direcionamento prático como um serviço técnico deveria ter.

O subconsciente do neurótico vai vir à tona na sua experiência, pois todo o corpo está presente na espiritualidade. E assim como faz no dia a dia, ele também vai exercer força na criação da realidade do que se é vivido. Não podemos esquecer que a nossa mente tem um poder criativo fabuloso. O neurótico pode se perder nos símbolos e códigos do seu inconsciente com a profunda convicção de estar vivenciando uma experiência espiritual em sua plenitude, mesmo estando apenas em um transe.

Lembrando que sim, somos todos neuróticos e ninguém está em posição de julgar o caminho do outro. Não cabe ao terapeuta, ao mestre, a quem quer que seja julgar a profundidade da sua espiritualidade. Cada um saberá da sua experiência. Mas essas nuances precisam vir à tona, pois ajudam a nos manter reflexivos e desenvolvem nossa autopercepção. 

E sim, sermos todos neuróticos não significa que não estamos aptos a nos conectar com a espiritualidade. Não é nada disso. Apenas precisamos ter ciência das nossas limitações, conhecermos um pouco a nossa mente e nossos padrões emocionais. Precisamos estar alertas a tudo isso pois o contato com a espiritualidade pode fazer maravilhas com as nossas neuroses, pois traz justamente um amadurecimento e uma resiliência emocional pra todo o nosso corpo/mente/discurso.

Para a sua reflexão

Como tem sido a sua jornada espiritual? Você encontrou algumas neuroses ao longo do caminho? Consegue observar mudanças no seu comportamento que a espiritualidade te trouxe? Ou talvez você esteja procurando a conexão com a espiritualidade justamente para se livrar de alguma marca neurótica no seu comportamento? Você procura cuidar de um aspecto específico quando mira na espiritualidade? Respira fundo uns minutinhos e deixa essas questões vibrarem aí dentro

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